sábado, 28 de setembro de 2013

Do Obeso Depressivo ao Magro Feliz

Aos meus 11 anos de idade comecei entrar na famosa puberdade. Então meu corpo começou a dar sinais de mudanças como alteração de voz, pêlos surgindo e etc.. E com essa metamorfose acontecendo veio também um sentimento que até então eu não conseguia entender. Talvez eu não quisesse entender por saber que se tratava do interesse pelo mesmo sexo. Isso me perturbava muito! Quase fiquei louco com a possibilidade de ser gay. Mas não quero escrever sobre esse dilema agora. Deixarei para outra postagem. Quero contar como então comecei e como foi minha experiência em ser um obeso. 


Depois de muitos anos cheguei a conclusão que nessa ocasião eu simplesmente esqueci de mim. Resolvi sorrateiramente e inconscientemente abandonar meu verdadeiro eu e me considerar um ser desprovido de qualquer desejo e opinião. Era melhor se esconder para não ter que enfrentar a família e a sociedade. Afinal de contas eu dependia financeiramente dos meus pais. Como então eu poderia assumir tal condição? Não, isso não era possível. Eu tinha de alguma forma ocultar essa descoberta, que na época foi assustador para mim. 

Uma das maneiras que encontrei foi a dedicação total e exclusiva aos estudos. Até ai nada de mais, já que estudar não é problema mas solução. Virar CDF era um orgulho para as famílias tradicionais. Meus pais sempre viram com bons olhos essa condição.

Outra forma infeliz que encontrei foi se entregar ao deleite da gula. Comecei a ver na comida a resolução dos meus problemas. 



Então comer, comer e comer foi a ação que escolhi para reagir e paliar minha condição. Eu descarrega todas as minhas frustrações em um prato de comida. Toda a minha adolescência passei escondido atrás dos livros, cadernos, canetas e entre diversos e exuberantes pratos de guloseimas. 

Sem se preocupar com nada e com a triste ilusão que isso resolveria todos os meus problemas, fui entre garfos, facas e colheres, me afundando na dieta calórica. Em minhas memórias lembro de certa vez que me empanturrei no almoço e depois no jantar num dia de domingo. No dia seguinte estava eu passando mau. Náuseas e vômitos foram os resultados de tal gulodice. Passei então a não ter controle sobre a fome que eu sentia. Meu estômago já dilatado pedia mais e mais. Uma apetitosa e grande travessa de lasanha era um convite ao prazer. A ansiedade de degustar tal guloseima era irresistível. Limites quando se tratava em comer já não existia. Esse episódio se repetiu por várias vezes. 

Anos foram passando e com eles meu corpo foi ganhando quilos e quilos. A preocupação com a saúde não existia. A gula bastava e saciava todos os meus desejos. Fui subvertido pelo prazer de comer. Aos 21 anos de idade cheguei então a uma realidade que não desejo a ninguém. Com 1,75 mts de altura e com tristes e reais 110 Kgs de peso me vi um adulto frustado e obeso. A depressão tornou-se minha amiga nesses anos de adolescência sucumbida. Desprovido de qualquer vaidade e com auto-estima inexistente fui submetido em viver num corpo obeso.

Perdi grandes oportunidades na adolescência. Deixei de me divertir, deixei de fazer coisas comuns e típicas dessa etapa da vida. Sofri muito pela escolha que segui. Quantas vezes me senti excluído do mundo. Ser praticamente um extra-terrestre diante da sociedade não era fácil.


Meu manequim chegou a ser 52. Nossa, como eu me sentia horrendo. Não era eu. Não sei aonde eu estava. Minha cabeça não correspondia ao corpo que eu morava. Agora consegui mais um problema. Além da homossexualidade eu tinha também a problemática de ser um obeso. Eu via meus irmãos com corpos esguios e levando uma vida de adolescente "normal" e eu ali sem viver nada, sem sentir nada e praticamente preso ao um corpo com sobrepeso e com alma atormentada pelos conflitos existenciais.

Um dia de repente acordei numa manhã com uma angústia terrível. A sensação de morte veio com toda fúria e vigor. Eu tinha dificuldade de respirar e então senti que era hora de tomar alguma atitude. Acredito que fui tomado por um sentimento divino que fez com que eu acordasse para vida. Chegou o tempo de se transformar, de se libertar de todos os desentendimentos da alma. Demorou, mas enfim a felicidade e a vontade de viver tomou contou de mim. Comecei a partir daquele dia uma dieta que qualquer endócrino iria achar maluquice. 

Com miseras  2 duas colheres de arroz, 2 colheres de feijão, carnes magras e leguminosas,  foi o que regeu minha dieta. Sucumbi os pães, açúcares e refrigerantes. Como eu não tinha condições financeiras para frequentar uma academia, comecei a fazer caminhadas e correr de bicicleta. Não foi fácil. Tive vários momentos que a vontade era desistir. Mas graças a Deus segui em frente. 

Em 1 ano perdi 50 Kgs e conquistei o manequim de número 36. Minha força de vontade e o desejo de ser feliz fez com que eu chegasse ao corpo magro e ideal para mim. Dos 110 kgs  que eu tinha passei a ter 60 kgs. Claro que fiquei muito magro. Algumas vozes maldosas da cidade chegaram a soar que eu estava doente. Gente, quanta ignorância. Como se fala por ai: "O povo vê as pingas que tomo, mas não vê os tombos que levo".

A vaidade então tomou contou de mim. Corte de cabelo mais moderno, cremes de beleza, roupas contemporâneas começaram a fazer parte do meu cotidiano. Finalmente eu consegui ser eu mesmo. E o mais importante aconteceu, descobri o mundo, e a homossexualidade já não era mais um problema. Claro que não gritei para o mundo mas se transformou em uma realidade não mais conflitante dentro de mim. O pior inimigo que podemos ter somos nós mesmos. É tão fácil enfrentar um oponente e tão difícil lutar contra nosso próprio ser. Mas eu venci com toda glória e louros que mereço. 


Passei de uma adolescência depressiva, conflitante e obesa para uma vida adulta, saudável e feliz. Se esconder seja por qualquer motivo não vale a pena. Deixar a infelicidade como protagonista e dizer não à vida é inegavelmente um erro. Hoje conto para as pessoas de meu convívio essa minha história, mas poucos acreditam. Mas é a mais pura verdade. Digo com orgulho e prazer essa minha experiência para que outros não venham passar pelo que passei. Aprendi com a vida e com os erros. Só digo uma coisa para vocês: hoje eu só quero da vida é simplesmente amar, amar e ser feliz.

Beijos para todos!

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